Todos nós – pais, educadores e profissionais da saúde sabemos da fundamental importância do limite no desenvolvimento infantil e, conseqüentemente, na formação do sujeito. Porém, sabê-lo não é garantia de trabalhá-lo de forma efetiva.
Culturalmente a família vem numa constante mudança de paradigmas e modelos. Até algumas décadas atrás, vivíamos num regime sócio-familiar repressivo e autoritário, onde nada podia, tudo era feio e criança não tinha voz. Disso migramos para o outro extremo, ou seja, para a cultura da permissividade, onde tudo pode e o feio é, justamente, reprimir e onde tanto os adultos quanto as crianças sentem-se, inúmeras vezes, confusos e desamparados. Pais e/ou responsáveis não se sentem autorizados a dizer não, a situar para a criança o que pode e o que não pode. Muitas vezes, culpam-se por uma rotina de trabalho árdua e desgastante, que reduz o tempo de convivência com os filhos. Como uma forma de compensar tal ausência, nos momentos em que estão com as crianças não suportam a idéia de frustrá-las, cedendo como forma de provar-lhes seu amor.
Neste processo, acabamos por esquecer do papel que nós adultos temos diante das crianças, que é o da mediação. Somos os responsáveis de apresentar à criança o mundo onde ela vive e de instruí-la de forma que, no futuro, possa se inserir sem maiores dificuldades na cultura social. E é aqui que os limites tornam-se fundamentais. São eles que possibilitam à criança perceber que algumas faltas, ausências, impedimentos e frustrações fazem parte da vida e serão experienciadas nas mais diversas situações cotidianas. Oferecer à criança uma rotina minimamente organizada e algumas regras de convivência é o que, ao longo de seu desenvolvimento, lhe permitirá lidar de forma tranqüila com os limites presentes em toda a esfera social. Isso compreende desde de um bom relacionamento com as figuras que representem autoridade e/ou liderança (pais, professores, chefes, etc.) até situações que exijam suportabilidade e respeito à regras e leis (no trânsito, nas filas e em tantos outros momentos que requerem paciência e respeito ao próximo).
Portanto, o “NÃO” tem papel fundamental na constituição da criança, mostrando à ela de que não é a única no mundo a querer todos os seus desejos realizados e que isso não é possível a ninguém. Que, em vários momentos, é preciso esperar e, em tantos outros, a frustração é inevitável. O não tem função “PROTETIVA”, de cuidado e de amor. O excesso de permissividade vai se mostrando, ao longo do tempo, um processo insustentável e nocivo, tanto aos pais e às criança, como à sociedade como um todo, que vai recebendo sujeitos cada vez mais intolerantes às regras sociais e agressivos nas relações com o outro.
Talvez, o desafio maior em trabalhar efetivamente a questão dos limites com os filhos esteja em que, para isso, os pais precisam se haver com os seus próprios limites e/ou com a falta deles. Por isso, torna-se aparentemente mais fácil deixar isso de lado, para depois ou ainda para que outros o façam. Com isso, nada mais se faz além de adiar uma questão que necessita ser trabalhada em paralelo ao processo de desenvolvimento infantil. Há coisas que não podem ser deixadas para depois...
Rebeca Chabar Kapitansky
Psicóloga – CRP 07/13261
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